domingo, 13 de dezembro de 2009

O que exigir de Copenhague

por Rodrigo Rollemberg
Na última sexta-feira (4), em noticiário da Globo News, o cientista político Sérgio Abranches declarou que, antes mesmo de se iniciar, a Conferência de Copenhague já apresenta um saldo positivo: os estadistas mais influentes abandonaram uma posição negativa em favor de uma atitude mais pró-ativa e positiva; ou seja, migraram da lógica do “não”, para uma lógica do “sim”.

Essa mudança, ainda que traduzida no anúncio de metas tímidas, é promissora e deve ser creditada, sobretudo, a cientistas e ambientalistas, bem como a todos os movimentos e lideranças que, nas últimas décadas, abraçaram firmemente a bandeira da sustentabilidade ambiental.

Não pode também ser desprezado o gesto político do presidente Lula que apresentou o compromisso do Brasil com metas numéricas expressivas, no momento em que os presidentes das duas maiores nações emissoras de gases de efeitos estufa, os Estados Unidos e a China, já preparavam o esvaziamento da conferência. É evidente que as medidas anunciadas pelo Brasil são passíveis de aperfeiçoamento.

No que se refere, por exemplo, ao desmatamento, sua completa eliminação não afeta em nada a expansão da fronteira agrícola e pecuária, que têm a sua disposição imensas áreas degradadas, passíveis de recuperação para essas atividades econômicas. Assim, manter a Floresta Amazônica e o Cerrado de pé depende do avanço da consciência ambiental e de ampla e contínua mobilização social, além da continuidade do fortalecimento do poder fiscalizador do Estado, o que já vem sendo gradativamente implementado pelo governo brasileiro.

A concertação política internacional, que tem em Copenhague um palco privilegiado, deve assumir claramente dois objetivos:

a) contribuir para que as nações pobres e em desenvolvimento convirjam para níveis de riqueza per capita próximos àqueles apresentados pelas nações e povos mais ricos; essa é uma meta inegociável, na medida em que o estado de desigualdade que aparta os países e seres humanos em categorias socioeconômicas tão díspares é insustentável do ponto de vista geopolítico e inaceitável do ponto de vista ético;
b) todos os países, sem exceção, devem basear sua busca de prosperidade em bases ambientalmente sustentáveis; essa meta é também inegociável, na medida que a atual exploração desenfreada dos recursos naturais exaure o planeta e gera graves transtornos climáticos.

Essas duas metas devem ser sintetizadas numa só, que podemos chamar de “convergência sustentável”. Cabe às nações ricas limpar sua matriz energética no prazo mais breve possível, contribuir para que as emergentes obtenham o mesmo sucesso e destinar somas crescentes de recursos para as mais pobres se adaptarem às mudanças climáticas que certamente virão; às nações emergentes cabem também suas responsabilidades, uma vez que serão elas, caso nada seja feito, as responsáveis por cerca de dois terços das emissões nas próximas décadas.

Copenhague não apresentará uma resposta ideal a esses desafios. É preciso, entretanto, manter a pressão sobre as lideranças mundiais para que o acordo a ser ali produzido esteja o máximo possível em sintonia com um futuro ambientalmente viável e com boas condições de vida para todos os seres humanos.